A paragem de digestão

Quem me conhece sabe que, quando alguém vomita, ou está para vomitar, eu fujo!Não consigo, pronto, é mais forte do que eu...

Mas ela saiu de dentro de mim, é um amor visceral capaz de me fazer suportar e ultrapassar qualquer desafio.....até aparar vómitos!Há três noites atrás, tinha eu de estar no aviário às 6H55 da manhã, oiço-a chamar-me às 3H00:

-Oh mãe.....dói-me a barriga!Vem para ao pé de mim um bocadinho....

Lá fui.Pensei tratar-se de um ou dois punzinhos com fala de 'bom tom', deite-me com ela e masajei-lhe a barrigota.Passado um bocadinho, ela senta-se e desata a vomitar....nem a consegui segurar, coitada....limitei-me a não a deixar cair em cima do que saiu boca fora e quando o espasmo terminou, deixei-a sentada na cama, fui buscar toalhitas húmidas para limpar os seus braços e pernas (mas não foram suficientes), tirei-a para o chão do quarto, molhei uma toalha turca com água e então, limpei-a melhor.Embrulhei as roupas da cama para dentro de um saco de presente para a minha mãe lavar, sem ter percebido ao certo o que tinha vindo fora.Depois perguntei-lhe se queria água, ao que disse que sim e dando-lhe a água, recostei-a em almofadas grandes que tem no seu quarto, enquanto eu fazia a cama de lavado.Olho para ela, estava em pose de 'reza a Alá' e pergunto-lhe o que tem.Diz que lhe dói a barriga outra vez.Acabo a cama e digo-lhe para nos deitar-mos nela.Não quer, diz que cheira mal (não cheirava, era mesmo o aroma que ainda estava no ar).Digo-lhe para irmos para a minha cama, não quer, diz que o pai está lá e 'faz roncos'.Limito-me a sentar-me no chão do quarto, com ela ao colo a fazer festinhas na barriga molestada da bicha.De repente, outro espasmo, mas desta vez, só arroto:

-Agora foi só um arzinho!-diz ela, aliviada.

-Vamos para a minha cama.

-Não!Está lá o pai!

Tem no chão do quarto daqueles tapetes puzzle fofinhos.Ponho um lençol por baixo, almofadas e outro por cima e ficamos ali, sossegadas.Vou chamar o meu marido, para lhe contar o que se estava a passar.Ele levanta-se:

-Tita, tás mal disposta?

-Sim?

-Queres beijinho do papy?

-Não.

-Queres vir para a nossa cama?

-Mas tu estás lá!

-Tá bem, o pai vai para a sala, vai tu com a mamy para lá....

-Tá bem....

Lá fomos.Na almofada, coloquei um toalhão turco para ela deitar a cabeça, não fosse vir mais 'molho'.A fazer festas na barriga, estávamos quase a dormir....senta-se num repente:

-Mãe!Vou fazer leitinho outra vez!

-Queres tito?

-Não mãe!Vai sair outra vez!

Puxo o toalhão para o seu colo e digo-lhe para deixar sair para cima da toalha:

-Para aqui?

-Sim, a mãe depois põe para lavar.

-Mas era melhor para o chão!

-Não Tita, assim embrulho tudo e vai para a máquina.

-Mas se for para o chão, tu vais e limpas logo a seguir!(como é que alguém consegue divagar sobre o sítio para onde vomita, quando está aflito?)

-Para aqui!

-Tá bem....

E torna a vomitar outra vez. Desta vez ainda lhe consegui pôr a mão na sua testa (não sei porque é que se faz este gesto, mas foi o que me ocorreu).Embrulho tudo, outra vez, e ela, muito feliz diz que já não lhe dói a barriga, acordada, como se fossem 5 da tarde e não da manhã!

Torno a colocar novo toalhão de banho por cima da almofada.Bebe água e deita-se a pedir miminho e festinhas na barriga.Passado um bocadinho, escuto um suspiro de quem se rende ao João (Pestana) e eu fecho os olhos também.Por 10 minutos, porque a preocupação de a ter mal me leva a acordar 'assarapantada', culpando-me por me deixar adormecer!Vejo as horas.Faltavam 5 minutos para o despertador tocar.Já nem o deixei fazer tal coisa.Levanto-me, faço um relatório ao pai expulso para a sala, que me ouviu com um olho aberto, outro fechado, e arranjo-me para ir trabalhar.Podre, cansada e com o cheiro de vómito entranhado no nariz, lá vou eu para o aviário.Tive tanto trabalho que ainda não sei bem como cheguei viva às 14H (horas de saída)!

Telefonemas constantes para saber da pequena e a promessa de ir para casa dormir, sem ela, para poder cuidar dela mais tarde.Mas o pai, sem ser por mal, quando ela acordou, deu-lhe um iogurte líquido (que veio parte fora logo a seguir e totalmente fora depois dela beber mais água, para o chão, para o meu tapete lindo!).

Não quis comer quase nada e passou o dia a chá de cidreira com açúcar e muita água.Não vomitou mais, mas estva a fazer um bocadinho de febre.Já não fui dormir para casa.Fui para ao pé dela, dormitei, sem descansar própriamente e eu também me comecei a sentir quente.

Final de tarde:CATUS.Eu e ela a ben-u-ron , até ver mais desenvolvimentos.A médica deu-me 5 dias de baixa ( que eu não accionei, porque é tempo de muito frango andar por aí, e porque não ía valer de nada tentar sossegar, pensando que a Segurança Social só paga a partir do 4º dia de baixa e me descontavam do ordenado 3 dias de trabalho, a não ser que me sentisse mesmo mal), porque eu comecei a queixar-me que só penso na Gripe A e que tinha medo de estar em risco, porque os frangos cospem, espirram e tossem para cima de mim e eu não faço a menor ideia de onde eles vêm.Disse que eu precisava era de descansar e ver se entretanto me subia a febre, ou apresentava mais algum sintoma.Uma espécie de mini-quarentena.Sobre ela, após palpação da barriga, foi-me dito que andavam ali uns gazes e que 'a coisa se podia dar também por baixo', o que acabou por acontecer no dia seguinte e que encerrou este capítulo febril de mãe e filha.Eu ainda tomo 2 ben-u-ron por dia, mas mais para não voltar a 'aquecer'.Quando folgar, faço o 'desmame'.

Ela está fantástica.E dorme.E descansa.

A mãe ainda está no rescaldo.

Inté.